Maria na Congregação Passionista
11/06/2021

Autor: Pe. Bruno Maciel, CP

SÃO PAULO DA CRUZ E MARIA

Maria possui uma presença poderosa e discreta na Escritura e na Liturgia, e isto é confirmado também na história dos santos, como é o caso de São Paulo da Cruz, que tem sua vida tocada pela Virgem Santíssima desde sua juventude. Os sinais de sua presença eram muitos e claros, e todos apontavam para seu Filho Jesus.

Paulo foi criado em uma família de profunda fé, onde aprendeu a conversar com Maria diariamente por meio do Rosário. Quando menino, ele caiu no rio Olba e foi milagrosamente salvo por Maria. Durante as visões intelectuais do verão de 1720, Maria mostrou a Paulo o hábito do luto e da penitência e o Sinal Passionista que ele e seus companheiros deviam usar, e explicou o significado do hábito Passionista em termos de luto pela Paixão e Morte de Jesus.

Paulo tinha uma devoção muito especial ao mistério da apresentação de Maria no templo. Naquela festa particular “despediu-se do mundo e desejou vestir-se com o hábito da Paixão, e assim se ofereceu na flor de seus anos à Divina Majestade, em imitação daquela grande rainha, que, ao se oferecer no templo, fez de si mesma um sacrifício tão agradável ao coração de Deus” (São Vicente Strambi: A Vida do Bem-aventurado Paulo da Cruz, p. 204).

Em sua primeira viagem a Roma, o navio parou em Monte Argentário, e São Paulo da Cruz relembrou as palavras que tinha ouvido na oração diante da imagem de Nossa Senhora: “Paulo vem a Monte Argentário, porque eu estou sozinha”. Em setembro de 1721, quando foi recusada a audiência com o Papa, Paulo foi imediatamente para a Basílica de Santa Maria Maior, e na Capela fez o voto de promover a devoção à Paixão de Cristo nos corações dos fiéis e reunir companheiros com o mesmo propósito.

Durante toda a sua vida, Paulo esteve profundamente unido a Maria por causa de sua associação íntima no mistério da Paixão. Em seu leito de morte, Paulo apontou para seu crucifixo e disse: “Lá estão todas as minhas esperanças, na Paixão de Jesus Cristo e nas Dores da Bem-Aventurada Virgem Maria”. São Vicente Maria Stambi relatou que “Maria veio no momento da morte para ajudar Paulo e conduzir sua alma ao paraíso”.

PRESENÇA DE MARIA NA CONGREGAÇÃO

Em seu leito de morte, Paulo deixou a Congregação Passionista nas mãos de Jesus Crucificado e de nossa Mãe Dolorosa. Maria, sempre associada à pessoa e obra de seu Filho, continuou a dar sua presença materna e intercessão aos Passionistas. Esta presença mariana é contínua na Congregação e assumiu particular intensidade nos santos Passionistas, como São Vicente Maria Strambi, o Beato Domingos da Mãe de Deus, São Gabriel da Virgem Dolorosa, a Venerável Mãe Maria Crucificada e St. Gemma Galgani.

Quando a Congregação foi fundada em diversos países ao redor do mundo, experimentou-se a mesma forte presença mariana. Muitas fundações levaram seu nome. A devoção à Mãe das Dores está intimamente ligada à memória da Paixão. Missões passionistas, novenas e retiros, todos integraram o mistério de Maria com o mistério da Paixão e Morte de Cristo.

As Constituições Passionistas destacam a presença mariana na oração: “A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe do Senhor, está presente de maneira especial em nossa vida de oração. Como ela, nós também ponderamos a Palavra de Deus em nossos corações. Reverenciamos Maria como nossa Mãe e procuramos imitar a sua oração confiante e perseverante. No nosso amor por ela, procuramos compartilhar com compaixão a sua dor no mistério da Cruz, principalmente contemplando os mistérios do Santo Rosário. Invocando sua ajuda, estamos confiantes de que sua intervenção materna nos trará as graças de que precisamos como filhos abrindo nosso caminho para o Pai” (n. 53).

A presença mariana em nosso ministério é talvez melhor expressa pelo Papa João Paulo II por ocasião da beatificação do Irmão Isidoro de Loor: “Confio estes votos ao coração materno de Nossa Senhora das Dores, Rainha da vossa Congregação, e recomendo a ela todos e cada um dos queridos Passionistas”. (Papa João Paulo II, 1º de outubro de 1984).

NOSSA SENHORA DAS DORES

Ao pé da cruz, Maria adquiriu um espírito de compaixão, gerando em si uma sensibilidade, não só para os sofrimentos de seu Filho, mas também para os problemas de nós ao longo dos caminhos da vida. Essa compaixão confere a ela um tipo especial de conhecimento que permite que ela veja e aprecie o que estamos vivenciando, e isso, por sua vez, nos dá esperança de que ela nos será útil.

“Como ele (São Paulo da Cruz) sabia que tesouro é a verdadeira devoção a Nossa Senhora, desejou ardentemente que seus filhos a desfrutassem em abundância. Ele inculcou, e com grande fervor recomendou, que eles deveriam ser devotos de nossa querida Senhora. “Que eles tomem”, diz ele nas regras, “como sua principal protetora, aquela sempre Abençoada Virgem Maria, Mãe de Deus, e tenham por ela a devida devoção; evoquem com freqüência as tristezas mais amargas que ela suportou durante a Paixão e a morte de seu querido Filho, e que, pela voz e pelo exemplo, promovam nos outros a devoção a esta grande Senhora” (Strambi, Volume 2, página 215).

Os acontecimentos e experiências dolorosas atribuídos à vida de Maria, muitas vezes se relacionam diretamente com a nossa. Por exemplo, os pais cujos filhos estão perdidos no crime, assassinados ou sofrendo de doenças graves sabem o quanto sua tristeza está em parentesco com a de Maria. Em outras ocasiões, suas tristezas estão indireta ou simbolicamente conectadas às nossas. Não precisamos ser pais para seguir os passos da mãe triste. Os sofrimentos de cada indivíduo, homem ou mulher, se refletem em algum aspecto das dores de Maria.

Qualquer pessoa que já recebeu notícias que trouxeram consigo uma previsão de turbulência e dor futura, estava com Maria quando Simeão previu a dor no coração que ela teria. Qualquer pessoa que já tomou a decisão de deixar uma situação que era prejudicial e destrutiva esteve com Maria quando ela fugiu para o Egito para salvar a vida de seu filho. Qualquer pessoa que já procurou com pânico e consternação pela perda de uma parte valiosa de sua vida, estava com Maria quando ela procurou seu filho desaparecido. Qualquer pessoa que já conheceu o sofrimento em um nível mais profundo, esteve com Maria quando ela encontrou seu filho sofredor em seu caminho para o Calvário. Qualquer pessoa que já tenha feito vigília ao lado do leito de um moribundo, esteve com Maria enquanto ela estava sob a cruz. Qualquer pessoa que já abraçou uma parte de sua vida que morreu, estava com Maria quando ela recebeu o cadáver de seu filho em seus braços. Qualquer pessoa que já esteve em um cemitério com as lágrimas agarradas ao coração, esteve lá com Maria quando ela viu seu filho ser colocado para descansar no túmulo.

Ao entrarmos nessas tristezas, vemos como Maria questionou e lutou contra o que era confuso e obscuro, como ela precisava que os outros estivessem com ela em sua dor, como ela refletia sobre suas experiências de vida para encontrar significado nelas. Também vemos sua resiliência interior, como sua fé a sustentou e como seu profundo amor por seu filho deu-lhe força para entrar e suportar seu sofrimento. Vemos como ela nunca desistiu, mesmo em seus momentos mais desolados. Ao caminharmos com Maria em suas dores, descobrimos que não estamos sozinhos naquilo que é mais difícil para nós.

MÃE DA SANTA ESPERANÇA

A devoção à Santíssima Virgem com o título de Mãe da Santa Esperança é praticada na Congregação Passionista desde o início. Foi promovido de forma especial pelo grande missionário Passionista, Padre Thomas Struzzieri, que mais tarde se tornou bispo. Ele carregou uma foto de nossa Mãe da Santa Esperança com ele em missões. Esta imagem foi produzida e colocada nos quartos dos Passionistas para que pudessem ser lembrados de pedir a ajuda de Nossa Senhora em suas necessidades. A Santíssima Virgem tornou-se assim o modelo especial e o suporte da nossa esperança, e continua a ser.

A origem da devoção entre os Passionistas é uma imagem de Maria segurando o menino Jesus que tem uma cruz na mão, recordando o ensinamento de São Paulo da Cruz de que 'toda a vida de Jesus foi uma cruz' e a vida do discípulo de Jesus significa permanecer na cruz com ele. A imagem original, descrita como uma gravura de cobre, pertencia ao Padre Lorenzo Ricci, o Padre Geral dos Jesuítas. Quando a Companhia de Jesus foi suprimida em 1773, a imagem passou a ser propriedade de São Paulo da Cruz. O sucessor de Paulo, o padre João Batista Gorresio, mandou fazer cópias e tornou-se o costume de cada religioso ter uma dessas impressões (ou talvez gravuras) em sua cela. São Paulo da Cruz nutriu uma terna devoção filial a Maria e honrou-a especialmente com os títulos de Nossa Mãe das Dores e Nossa Mãe da Santa Esperança.

A atual atenção voltada para a esperança, graças ao enfoque nela prestado pelo Papa Bento XVI em sua primeira encíclica, bem como a ansiedade de toda a sociedade pela condição desesperadora da situação econômica, recomendam uma atenção renovada a Maria sob este título. A base para isso está nos poderes de intercessão de Maria diante do trono de Deus, em nome daqueles que oram por ela, e mais especificamente, no que diz respeito aos Passionistas, é a esperança que todos nós colocamos nos sofrimentos e na morte de Cristo para ganhar para nós o favor de Deus e a libertação de nossos pecados. Dada a proeminência de Maria no Calvário como a Virgem das Dores, seu status como Mãe da Santa Esperança é compreensível.