As Palavras do Jubileu: PROFECIA
12/07/2021

Fonte: Passionistas de Portugal

Deus é Profecia. Ele revela-se a nós como Compassivo e Misericordioso, Força e Suavidade, Próximo. Aquele que está a chegar, Aquele que é o Futuro. É assim que Ele se manifesta a nós e se entrega a nós. E àquele a quem Ele chama, capacita e de quem solicita a aceitação do seu Ser, esse é feito profeta, testemunha apaixonada e incandescente do seu amor pela humanidade.

Amós, Oseias, Isaías e Jeremias; anteriormente Abraão e Moisés, reconhecem que Deus invadiu as suas vidas e sentem-se outros: anunciam e comovem-se, alegram-se e sofrem, denunciam e exortam a partir da “paixão” de Deus que arde nos seus corações. Amós não tem outra justificação para as suas palavras senão o que Deus fez nele; Oseias faz da sua vida um sacramento da relação esponsal de Javé com o seu povo; Isaías, reconhecendo-se como um homem de lábios impuros, sabe que foi capacitado para a disponibilidade e proclamação; Jeremias reconhece-se seduzido pelo seu Deus e vencido pelos laços do amor.

Assim nasce a profecia e o ser dos Profetas: da paixão de Deus pela humanidade e do seu projeto amoroso de Paternidade e Fraternidade. Por esta razão o Profeta abre o horizonte para o futuro de Deus, denuncia o sofrimento e a injustiça, desperta a esperança e, ao mesmo tempo, alimenta a espera paciente e confiante, encoraja nas lutas e reconforta com o descanso, lê o presente com um coração que habita no futuro de Deus e reconhece no futuro de Deus.

O Profeta lê o presente com o coração já no futuro de Deus e reconhece no passado a fidelidade permanente Daquele que sempre abre horizontes, a ação Daquele que apoia as vítimas, reivindicando para elas a ressurreição, Aquele que apoia todos os anseios e desejos.

Paulo da Cruz é Profeta e Profecia porque Deus o fez participante, no seu Filho Morto e Ressuscitado, de uma forma especial e carismática, da Sua paixão pela humanidade. Nele irrompe, como graça pessoal e de um carisma que pode ser partilhado, o dom de uma imersão pessoal nesse oceano infinito de amor e generosidade que é a Paixão do Senhor Jesus. Pelo menos, desde o Retiro de 40 dias em Castellazzo, Paulo da Cruz comunica-nos como a Paixão do Senhor se faz sentir mesmo nas suas profundezas mais íntimas e na sua sensibilidade mais imediata e, ao longo da sua vida, ele desejará fundir-se nesse fogo de amor e dor, para estar imerso nesse acontecimento revelador e salvador.

Deste ardor profético, o anúncio da conversão surge como uma urgência irreprimível, levando a contemplar tanta generosidade de amor oferecida pelo Deus Crucificado. Este ardor torna-se um apelo a outros companheiros a quem o Senhor dá esta mesma partilha em amor entusiasmado. Estes irmãos, reunidos pelo mesmo dom, são capacitados como novos profetas que abrem o horizonte da humanidade à Paixão de Deus. Profetas habitados pelo Espírito que anunciam e denunciam e abrem horizontes a partir da Paixão de Cristo que se prolonga na Paixão da humanidade; reconhecendo a sua Páscoa, fazem germinar sempre o Reino de Deus com a oferta humilde e generosa do próprio ser, abrindo-o à fecundidade que nos excede. São testemunhas inseridas no acontecer Pascal de Cristo presente na história.

A Profecia brota da Paixão de Jesus Cristo que se derrama no nosso coração tornando-o não só habitado por ela, mas também habitando nessa Paixão.

O dinamismo do Espírito leva-nos permanentemente da “Paixão no coração” para o “coração na Paixão”. E deste refluxo e fluxo, deste dinamismo, brota a dimensão Profética da nossa Vida e Missão Profética Passionista.

Diz-nos o consultor geral, P. Gwen Barde, passionista indiano: “Em 1988 o Pe. Carl Schmitz, um passionista que trabalhava com as tribos B’laan, do sul das Filipinas, foi abatido pelas balas de uma arma de fogo nas escadas da sua missão. Meses antes o P. Carl tinha recebido mensagens anónimas que lhe sugeriam que abandonasse a missão nas montanhas e regressasse às paróquias da cidade. “O trabalho quotidiano de um sacerdote é estar na igreja e não nas casas ou campos dos rebeldes”, dizia una das mensagens enviadas. O Pe. Carl só podia responder nas Missas. Acostumado a dizer que o trabalho quotidiano de um passionista é levar amor de Deus não só dentro da Igreja mas especialmente aos que estão longe da igreja: nos campos, nos lagos, nos fornos que elaboram a “copra” nos tugúrios das montanhas.”

A compreensão de Carl da sua missão é simplesmente a mensagem da Paixão e morte de Jesus: conduzir todos ao núcleo do amor de Deus manifestado na Cruz. S. Paulo da Cruz, fundador dos passionistas, levou esta mensagem aos crucificados do seu tempo, aos pobres filhos dos pântanos da Marisma (zona pantanosa italiana entre Roma e Nápoles).

A missão Profética dos passionistas é, portanto, procurar o apoio no meio dos pântanos. A Marisma de Paulo da Cruz converteu-se no símbolo das gentes dos lugares das periferias, onde ninguém quer ir, especialmente ali onde o sofrimento apresenta Deus como aquele que parece estar ausente. “não podemos pensar em Jesus Crucificado e esquecermos as cruzes que existem no mundo” (Jesús Maria Aristín, bispo passionista)).”