As Palavras do Jubileu: ESPERANÇA CRISTÃ, UMA LUZ PARA A AÇÃO
12/08/2021

Autor: Pe. Joachim Rego,CP

A virtude da esperança responde ao mais profundo desejo humano de felicidade, que foi colocado por Deus no nosso coração. A esperança absorve o desejo humano de felicidade, purifica-o e conforma-o ao desejo de Deus. Portanto, a virtude da esperança cristã dirige a nossa mente e o nosso coração para Deus. Consequentemente, um mundo sem Deus é um mundo sem esperança.

Na sua bela encíclica sobre a esperança, “Spe salvi” (Salvos na Esperança), o Papa Bento XVI afirma que “um sinal distintivo dos cristãos é que eles têm um futuro! Não conhecem os detalhes do futuro, mas sabem que “a sua vida não acaba num vácuo'.

Nas Escrituras, a esperança é a virtude que nos preserva do desânimo nas dificuldades e desafios da vida. A esperança redireciona os nossos corações cansados e partidos para Deus, abrindo-os à expectativa de felicidade eterna com Deus. No Novo Testamento, a virtude da esperança está ligada à vida e à morte de Jesus Cristo. Aqueles que depositam a sua confiança no poder salvífico da vida, morte e ressurreição de Jesus estão cheios de uma esperança renovada que vem do Pai. A virtude da esperança está também ligada à fé. Na Carta aos Hebreus, lemos que “a fé é o fundamento do que se espera, e a garantia do que não se vê” (Heb 11:1).

A NOSSA FÉ CRESCE À MEDIDA QUE COLOCAMOS A NOSSA ESPERANÇA EM DEUS. E A NOSSA ESPERANÇA FORTALECE-SE E AMADURECE QUANDO OLHAMOS O MUNDO QUE NOS RODEIA COM OS OLHOS DA FÉ. A ESPERANÇA TAMBÉM ESTÁ LIGADA COM UMA CONFIANÇA TRANQUILA, UMA PACIÊNCIA DURADOURA, UMA CONVICÇÃO PROFUNDA, QUE É A ATITUDE FUNDAMENTAL DO CRISTÃO.

A esperança cristã é muito realista. Ela constrói-se sobre consciência das nossas fraquezas, as limitações da natureza humana, as muitas dificuldades da vida e a absoluta necessidade da graça divina. A esperança cristã não reside em nós próprios, mas em Jesus Cristo. Não é um simples desejo ou sentimento, é uma certeza tão sólida como uma rocha, uma garantia, uma âncora: “…agarrar-se à esperança que está diante de nós. Pois é para nós como uma âncora da alma, segura e inabalável'. (Heb 6,18-19).

Como passionistas – povo em missão – devemos irradiar uma espiritualidade de esperança, ou seja, uma espiritualidade baseada na confiança na ajuda de Deus: “A menos que o Senhor construa a casa, os construtores cansam-se em vão…”, uma espiritualidade que tem confiança Naquele que fez a promessa. Esta esperança vai para além da racionalidade; permite-nos dar passos para além do puramente seguro e fiável, colocando a nossa confiança apenas Naquele que nos chama. A pedra angular da espiritualidade da esperança é render-se, confiar.

Uma espiritualidade da esperança e a confiança, vivida na sua totalidade, testemunha que o Evangelho é uma Boa Nova e que Jesus não é um reformador social da humanidade, mas uma manifestação do imenso e ilimitado amor de Deus (“A Paixão é a maior e mais maravilhosa obra do amor de Deus', São Paulo da Cruz).

Por vezes, temos tendência a confundir a esperança cristã com o otimismo mundana/secular de que as coisas vão melhorar a nível humano. Por exemplo: sentimo-nos otimistas quando vemos muitas novas vocações, os nossos ministérios crescem, as igrejas estão cheias, as pessoas elogiam-nos. Tendemos a medir os nossos ministérios com base no êxito. Mas o ministério de Jesus Cristo não terminou de uma forma otimista.

Uma espiritualidade da esperança tem a convicção de que qualquer situação humana tem uma profunda sede de confiança, justiça e fraternidade, que a base de tudo está na genuína sede de Deus. Isto significa que, sobretudo para nós ministros, devemos ser pessoas que vivem a fé em profundidade. Deus deve ser o verdadeiro coração e o centro das nossas vidas; devemos crer sinceramente o que pregamos. O Papa S. Paulo VI expressava-o assim na Evangelii Nuntiandi: “O nosso tempo tem sede de sinceridade e honestidade. Sobretudo os jovens ficam horrorizados com falsidade e a hipocrisia”.

“Um primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança está na oração. Quando ninguém me ouve, Deus ainda me ouve: quando já não consigo ouvir ninguém ou chamar alguém, posso sempre falar com Deus. Se não houver ninguém para me ajudar – quando houver uma necessidade ou uma expectativa que ultrapasse a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se me vejo relegado à extrema solidão….; o que reza nunca está totalmente só.” (Bento XVI, Spe Salvi, 32)

Jesus não nos pediu que tivéssemos êxito, pediu-nos que “produzíssemos fruto”. O cristianismo não promete êxito. De fato, Jesus prometeu aos discípulos que também beberiam o cálice que ele ia beber: prometeu-nos a Cruz: “Quem quiser vir depois de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz siga-me.” Consequentemente, se queremos medir-nos a nós próprios, devemos fazê-lo sobre a forma como partilhamos a Cruz de Jesus. Por outro lado, se trocarmos a verdadeira esperança pelo otimismo secular, a Cruz de Cristo tornar-se-á para nós um obstáculo.

JOÃO PAULO II EXPRIME-O DESTA FORMA:

“A AÇÃO FUNDAMENTAL DA ESPERANÇA, POR UM LADO, ENCORAJA O CRISTÃO A NÃO PERDER DE VISTA O ÚLTIMO QUE DÁ SENTIDO E VALOR À VIDA, E, POR OUTRO LADO, OFERECER RAZÕES SÓLIDAS E PROFUNDAS PARA UM COMPROMISSO DIÁRIO DE TRANSFORMAR A REALIDADE DE MODO A TORNÁ-LA CONFORME AO PLANO DE DEUS.

Há uma distinção importante entre a virtude cristã da esperança e do otimismo. A esperança inclui muito mais do que um desejo: deve estar firmemente enraizada na realidade. A esperança permanece sólida mesmo quando as coisas não estão a correr bem. A esperança conduz à ação mesmo nos momentos mais sombrios. A esperança não vive no momento, mas está enraizada na promessa de Deus de um futuro melhor. A esperança está enraizada num futuro abençoado prometido por Deus, assegurado pelo sacrifício de Jesus na cruz, garantido pela ressurreição de Jesus e selado pelo dom do Espírito Santo.

A esperança permite-nos recordar que nenhuma boa ação é feita em vão; de fato, cada esforço produz frutos de vida eterna. O teólogo Jürgen Moltmann disse-o bem: “A esperança genuína não é um optimismo cego. É a esperança de olhos abertos, que vê o sofrimento e, no entanto, acredita no futuro.

A virtude da esperança é um chamamento à ação, impele-nos a trabalhar em vez de simplesmente esperar de uma forma superficial e passiva. Quando Jesus nos ensina a rezar com o Pai Nosso “faça-se a Vossa vontade assim na terra como no Céu', quando nos diz que “está perto o Reino dos Céus“(Mt 3,2) convida-nos a unirmo-nos e a colaborar com Deus para fazer realidade o Seu sonho para o nosso mundo. A virtude da esperança exige compromisso humano. Devemos trabalhar como se tudo dependesse de nós e esperar como se tudo dependesse de Deus.

Quando redescobrirmos a verdadeira esperança cristã, quando experimentarmos a poderosa presença e atividade de Deus ao nosso lado e em nós, viveremos no Espírito, levaremos a vida aos outros e seremos geradores de vida nas suas múltiplas formas, e nos sentiremos unidos numa alegria atrativa e convincente.