São Paulo da Cruz e o Sagrado Coração de Jesus
26/08/2020

Autor: Diac. Bruno do Sacratíssimo Coração de Jesus, CP

A história de amor entre São Paulo da Cruz e o Sagrado Coração de Jesus começa no entendimento que o nosso pai fundador tem sobre o sentido de coração em sua vida. Em 1717, Paulo recebeu o convite vocacional para retirar-se na solidão, a fim de conduzir uma vida penitencial em grande pobreza. Um ano depois, ele recebeu o convite para reunir companheiros e viver com eles em vista de promover nas almas o santo temor de Deus, e no verão de 1720, a luz decisiva chegou interiormente: Paulo se viu vestindo um hábito preto, no qual havia um coração carregado com o nome de Jesus e o sinal da Sua Paixão, com uma cruz acima do coração. Assim, ele percebeu que usava o hábito do luto em memória da Paixão de Jesus Cristo e para promover “a grata memória” deste acontecimento no coração dos fiéis.

Os momentos onde Paulo melhor viveu a experiência de ter o Sagrado Coração de Jesus próximo ao seu eram na Eucaristia. Sempre após a comunhão, Paulo costumava lembrar-se de Nosso Senhor e da Sua Sagrada Paixão. Ele recebeu um entendimento sobrenatural de forma que lhe fazia fundir o amor e a dor. Assim dizia: “Após receber a Santa Comunhão, fiquei particularmente recolhido, especialmente quando me lembrei de Nosso Senhor em amorosa e dolorosa memória de Seus sofrimentos” (Diário, 8 de dezembro). Paulo também sentiu o desejo de morrer como mártir através do testemunho da verdade do Santíssimo Sacramento (idem, 26 de dezembro). Ele dizia que, contemplando “com os olhos do corpo, o meu Senhor, no Santíssimo Sacramento, pedi-Lhe que enviasse o Serafim para transpassar-me com flechas de amor”; e nesta comunhão, Paulo tem sua sede pelo Divino Amor saciada. Ele pedia ao Nosso Senhor que o permita “beber da infinita fonte de Seu Sagrado Coração” (ibidem, 27 de dezembro).

Esta experiência do Coração Eucarístico de Jesus lembrava Sua doutrina e ensinamento, onde Paulo queria “beber Amor dos rios, dos mares de fogo, e assim deixar todas as coisas serem reduzidas às cinzas” (Cartas I, p. 473). Paulo teve um crescente desejo de ver o Santíssimo Sacramento crido e adorado como “o inenarrável mistério do santo Amor de Deus; e de dar sua vida pela fé e pela Santa Eucaristia” (Diário, 29 de dezembro). Ele deseja fazer reparação pela falta de respeito e pelas ofensas cometidas contra este Sacramento “ao chorar lágrimas de sangue” (idem, 29 de dezembro). Paulo teve um profundo entendimento do mistério Eucarístico, e assim o desejo de reparação e adoração se tornou parte do seu ensinamento.

Certa vez, Paulo escreveu a uma freira: “Deve-se voar ao Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento, e aí desfalecer de dor numa conta de marcas de irreverência cometidas contra Ele pelos maus católicos, padres e religiosos, que são até piores, visto que em retorno de tão grandeamor, são culpados de sacrilégio e ingratidão. Para fazer a reparação de tal amor, a alma devota deve sofrer como uma vítima” (Cartas I p. 473; cf. p. 272). No começo do seu retiro, Paulo experimentou uma graça extraordinária após a comunhão, na qual descreve: “Jesus, meu Esposo no Santíssimo Sacramento”. Ao longo dos anos, Paulo percebia mais e mais que a Eucaristia nos prepara para participar da “Paixão de Cristo como uma experiência de amor” (Cartas I, p. 194).

Para Paulo, viver no Coração de Jesus é ser nutrido da Vontade Divina e isso não significa passividade, mas a prática de fazer tudo que possível da nossa parte para realizar a Vontade de Deus. Paulo bem dizia: “Vivo no completo abandono nos braços de Nosso Pai Celestial como uma criancinha, desejando ser nutrida pela Sua Santa Vontade, em Cristo e por Cristo. De alguma maneira, não posso negligenciar, de acordo com minhas obrigações, em atender o sentido da minha disposição” (Cartas V, p. 97). A perfeição em matéria do abandono à vontade de Deus pode ser assegurada pela constante recepção da Santa Eucaristia. Na Santa Comunhão, quem comunga é “assimilado” por Jesus e transformado Nele, queimando em Seu amor. Possuindo desta maneira “o Coração de Jesus”, quem comunga, pode assim como Ele, fazer da Vontade do pai seu alimento de amor filial (Cartas III, p. 190).