Belo Horizonte, 25 de junho de 2020
Oportunidade e Discernimento
Caros Irmãos,
Este tempo de coronavírus COVID-19 está sendo um tempo favorável para olhar nos acontecimento da vida do nosso povo, da Igreja e da nossa Província com o coração aberto ao novo à luz do Espírito Santo, como nos sugere o Superior Geral, Pe. Joachim Rego, nas suas últimas duas Cartas: Exame Passionista em tempo de pandemia COVID-19: Guia para a oração (Abril de 2020) e Veni Sancte Spiritus - Renovação no Espírito à luz da pandemia da COVID-19 - Uma reflexão de Pentecos-tes (Maio de 2029).
“É uma oportunidade que devemos discernir, aproveitar e não deixar passar. É um momento de ‘kairós’, um momento oportuno de graça: o convite de Deus à conversão e transformação, à renovação e mudança, pessoal e social (Pe. Joachim)”.
Pelas informações que recebo, vejo que estamos bem aproveitando dessa oportunidade para uma avaliação da vida comunitária e pastoral. Obrigado por tantas iniciativas inovadoras e bonitas. Iniciativas que expressam amor ao carisma passionista, à Congregação e ao povo de Deus.
Nos dias 22 e 23 (deste mês) tivemos o ‘Encontro dos Superiores’ online. Um encontro ‘maravilho’, como se expressaram os Superiores no final. Um encontro bom e necessário, tanto que foi pedido para marcar outro no mês de outubro. Partilhamos as iniciativas, as alegrias, os desafios e sugestões para criar mais solidariedade entre as comunidades, sobretudo neste tempo de COVID-19, e como nos preparar melhor para a abertura do Jubileu da Congregação nas comunidades religiosas e no trabalho pastoral (Colégios, Santuários, Projetos Sociais, Paróquias etc.). Obrigado a todos.
Discernimento como método de vida
O discernimento, como os Padres da Igreja o entendem, é a arte espiritual de como compreender-se com Deus, como se entender com Deus. Por isso, o discernimento para eles era um estilo de vida para conhecer “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é digno de respeito, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é honroso” (Fil 4,8).
Diante do novo, precisamos sempre conjugar oportunidade com discernimento. A ‘oportunidade’ nos monstra o ‘novo’, o discernimento nos orienta para a escolha certa. Ele é sempre dinâmico, pois é itinerário que leva para um resultado sempre aberto, para um ‘mais’ que o Senhor nos pede: “lembremo-nos que este discernimento é dinâmico e deve permanecer sempre aberto para novas etapas de crescimento e novas decisões que permitam realizar o ideal de forma mais completa” (Papa Francisco, Amoris lætitia, 303).
O discernimento na vida pessoal nos ajuda a escolher não apenas uma coisa em vez de outra, ou, pior ainda, a escolher o que eu gosto ou é mais fácil, mas a escolher o que mais me ajuda a crescer em minha vida pessoal concreta, integral e global, na vida da comunidade e na vida pastoral.
O discernimento na vida comunitária nos ajuda a não ‘dar por suposto’ o que o outro fala, a nos libertar da presunção de sermos sempre o ‘dono da verdade’, a sermos mais abertos ao que o outro pensa, ao diálogo, ao ‘novo’ que a pessoa está vivendo, à sua experiência, aos seus desejos, anseios, desafios. Assim fazendo, nos colocamos todos em igualdade, adotando uma atitude de discípulos diante do único Mestre. Um discernimento feito no diálogo e que leva tempo para dar ‘bons’ frutos.
O discernimento no trabalho pastoral, nos ajuda nas escolhas pastorais mais apropriadas neste tempo de pandemia. Nem tudo o que é bonito (ou somente porque outros fazem) é também apropriado em um determinado tempo e lugar. Quantas ‘loucuras’ pastorais aparecem nos meios de comunicação! Isso acontece quando o discernimento pastoral não é precedido pelo discernimento espiritual. Todas as nossas escolhas, mesmo aquelas relacionadas à vida cotidiana, estão interligadas ao discernimento espiritual. É o discernimento no Espírito Santo, dom do Pai, que nos “ensinará tudo” e nos recordará o Evangelho de Jesus (Jo 14,26), centro da nossa pregação e de toda a vida pastoral.
Penso que devemos prestar mais atenção à experiência do povo neste tempo de pandemia. Neste tempo de incerteza e de fragilidade o povo está cuidando mais da vida espiritual, buscando mais a Cristo, aquele Cristo que pensava de conhecer, mas na realidade era mais um ‘Deus ex machina’ (um Deus que resolve nossos problemas), ou um Cristo apenas para ‘hosanar’.
Devemos voltar de novo a pregar o Cristo do Evangelho, como nos lembra o Papa Francisco: “Convém ser realistas e não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho que lhe confere sentido, beleza e fascínio” (EG 34).
A todos meu abraço fraterno.
Pe. Giovanni Cipriani
Superior provincial