Belo Horizonte, 22 de março de 2017
Queridos irmãos,
O superior geral, Pe. Joachim Rego, na sua Carta para a Quaresma deste ano, convida-nos para uma “peregrinação interior a Deus, a fonte da misericórdia”.
Ele escreve: “Com a celebração do 150º aniversário da canonização do nosso Santo Fundador, 29 de junho deste ano, e no início da preparação remota para o Capítulo Geral do próximo ano (Roma, de 06 a 27 de outubro), acredito que este é o momento certo para fazer um sério exame pessoal na fé, não em vista de realizar grandes projetos, e sim, para colocar nossas vidas, a nossa vocação religiosa passionista, a missão e o apostolado da nossa Congregação sob a luz da Palavra de Deus, com a disponibilidade a ser provocados e perturbados pelo Espírito, para viver os ‘mesmos sentimentos de Cristo’”.
“Todos nós sabemos como é fácil (por vezes mesmo inconscientemente) ser capturados e arrastados sob a influência das ‘luzes’ contrárias do nosso mundo. É necessário, portanto, para a saúde e a autenticidade da nossa vocação, fazer regularmente um ‘controle’ (check-up), com atitude contemplativa e, com a graça de Deus, fazer as mudanças necessárias em direção ao Evangelho”.
Queremos acolher esse convite do nosso querido Pe. Joachim fazendo uma revisão de vida, pessoal e comunitariamente para chegarmos à Páscoa com espírito renovado, com novo vigor e entusiasmo.
Após visitar as comunidades nestes últimos meses, agradeço a Deus pela vida e pela missão dos religiosos. Agradeço a Deus, também, pelos jovens que decidirem partilhar conosco o carisma passionista iniciando a experiência no aspirantado a Barbacena.Partilho com vocês algumas alegrias, avanços e desafios da caminhada da nossa Província da Exaltação da Santa Cruz.
Comunidade missionária no Rio Branco - AC
No dia 20 de fevereiro, eu, o Pe. Marcos Antônio Souza de Jesus (primeiro consultor) e o Pe. Adilson Santana do Carmo, viajamos para Rio Branco. Fomos recebidos pelo bispo e pelo povo com muito carinho e expectativas.
Eis a crônica relatada pelo Pe. Marcos.
Crônica sobre a chegada dos passionistas em Rio Branco - Estado do Acre (Brasil), região da Amazônia brasileira.
“No dia 19 de fevereiro de 2017, dia da Novena Perpétua de São Paulo da Cruz, aconteceu no Santuário São Paulo da Cruz, em Belo Horizonte, a Celebração de Envio dos Padres Marcos Antônio Souza de Jesus e Adilson Santana do Carmo, como missionários, para a Diocese de Rio Branco, estado do Acre, região da Amazônia brasileira. A Celebração foi presidia pelo Superior Provincial, Padre Giovanni, que em nome da Província da Exaltação da Santa Cruz, animou os missionários na concretização do sonho de Jesus, qual seja, o de ir pelo mundo, anunciando o Evangelho a toda criatura.
No dia seguinte, 20 de fevereiro, embarcamos para Rio Branco eu, Pe. Marcos, Pe. Adilson e Pe. Giovanni Cipriani, superior provincial, que foi nos acompanhando. Saímos de Belo Horizonte às 7h15 da manhã, horário de Brasília, e fizemos duas escalas: uma em Brasília e outra em Porto Velho.
Chegamos a Rio Branco às 12h30, horário local, segunda feira. [Na realidade houve um mal entendimento. O bispo com o povo achavam que nós íamos chegar na noite da segunda, e tinham preparado uma caravana para ir ao aeroporto. Somente no domingo a noite ficaram sabendo que chegaríamos ao meio-dia, a causa da mudança do voo pela companhia aérea]. Esperava-nos no aeroporto cerca de 30 pessoas da Paróquia Santa Cruz em Rio Branco, Paróquia essa cedida a nós pelo Bispo Diocesano. Em seguida fomos levados para a Casa do Clero da Diocese e lá ficamos hospedados durante oito dias. Durante esses oito primeiros dias nossa programação foi a seguinte: já na segunda feira à tarde, tivemos uma reunião com o Bispo da Diocese, Dom Joaquín Pertíñes Fernàndez, OAR, que nos recebeu muito bem. Na terça feira dia 21, saímos para conhecer as comunidades das duas Paróquias que íamos servir: Paróquia Santa Cruz e Paróquia São Lourenço.
No dia 22 quarta feira, Dom Joaquín nos conduziu para conhecer alguns Projetos Sociais e Religiosos da Diocese. Conhecemos desde o Hospital Santa Juliana, uma filantropia da Diocese até os Seminários Maior e Menor, passando também pela Faculdade Diocesana São José. Visitamos também rapidamente a Catedral de Nossa Senhora de Nazaré, Padroeira da Diocese.
No dia 23 celebramos a Eucaristia com o povo da Paróquia Santa Cruz, para o qual fomos apresentados por Miranda, Diácono Permanente.
No dia 24, pela manhã, fomos com o padre Luiz Ceppe conhecer uma Cooperativa (indústria) de processamento da Castanha do Pará. E á tarde voltamos a encontrar o Bispo que, desta vez, nos conduziu a um Centro de Tratamento de Hanseníase da Diocese.
No dia 26 celebramos a Eucaristia com o povo da Paróquia São Lourenço para o qual fomos apresentados por Reis, Diácono Permanente.
No dia 27, festa de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, tivemos a oportunidade de celebrar a Santa Missa com os jovens da Paróquia Santa Cruz, que estavam em Retiro de carnaval naqueles dias. Foi um momento muito proveitosos através do qual apresentamos o nosso Carisma aos jovens ali reunidos.
À noite, o Pe. Giovanni, retornou para Belo Horizonte levando consigo os sentimentos positivos desse primeiro contato com o povo da diocese de Rio Branco. Quanto a mim e ao padre Adilson, no dia seguinte, dia 28, fomos transferidos para a casa que a Diocese providenciou para que pudéssemos residir temporariamente.
Esse é um breve relato da nossa chegada a uma Terra de Missão segundo os Bispos brasileiros, que classificaram toda região da Amazônia como área de Missão Ad Gentes.
Que nossa Senhora das Dores e São Paulo da Cruz intercedam por nós e nos obtenham de Cristo a Graça de plantarmos aqui o Carisma da sua Paixão, como expressão de solidariedade com o povo e o meio ambiente amazônico.
Pe. Marcos Antônio Souza de Jesus
Rio Branco, 19 de março de 2017
Festa de São José da Sagrada Família
Véspera do trigésimo dia da nossa chegada
O Pe. Marcos e o Pe. Adilson escolherem como nome da nova comunidade missionária, “Jesus dos Passos”.
Em nome da Província, quero agradecer ao Pe. Marcos e ao Pe. Adilson por este serviço a uma diocese carente de clero local.
Nós não queremos deixar eles sozinhos. Há religiosos que estão dispostos a passar lá um tempo (uma semana, quinze dias). É bem concordar isso com o Superior provincial e com o Pe. Marcos. Na Semana Santa irá o religiosos Sandoval Dias de Jesus.
Buscando o novo...
Somos cientes que a Igreja está vivendo, juntamente com o mundo inteiro, uma época de grandes transformações, nos mais diversos campos. Ela precisa de homens que tragam no coração o mesmo amor por Jesus Cristo crucificado-ressuscitado, o amor de Paulo da Cruz, para oferecer ao mundo a ‘Memoria Passionis’ como remédio eficaz a todos os males.
Todo trabalho pastoral é apropriado para viver e anunciar o ‘Mistério da Cruz’. Mas vejo que o nosso apostolado está quase totalmente enraizado nas paróquias. Com a consequência que alguns só se sentem realizados sendo párocos.
Na reunião do Conselho provincial do dia 18 de fevereiro refletimos sobre isso. E pensamos que é urgente revermos a nossa prática apostólica e missionária. É necessária desparoquializar um pouco o nosso apostolado, até mesmo deixando algumas paróquias.
A nossa história missionária é a mesma de tantos consagrados Passionista, que nos precederam e construíram a história dos Vicariatos, oferecendo e sacrificando a sua própria vida pela missão, pelos pobres, a fim de chegar a terras distantes onde ainda havia “ovelhas sem pastor”. Hoje todas as terras e todas as dimensões do humano são terra de missão na expectativa do anúncio do Evangelho. O campo da missão hoje parece ampliar-se todos os dias, abraçando cada vez mais novos pobres, homens e mulheres com o rosto de Cristo Crucificado que pedem ajuda, consolação, esperança, nas situações mais desesperadas da vida. Portanto, há necessidade de nós, da nossa audácia missionária, da nossa disponibilidade em anunciar a Boa Nova que liberta e consola.
O Papa Francisco falou aos Bispos da Conferência Episcopal de Moçambique em visita ad Limina (09/05/2015):
“Quando tivermos de partir para uma periferia extrema, talvez nos assalte o medo; mas não há motivo! Na realidade, Jesus já está lá; Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Jesus está lá naquele irmão. Ele sempre nos precede; sigamo-Lo! Tenhamos a audácia de abrir estradas novas para o anúncio do Evangelho”.
Agradeçamos a Deus porque demos mais um passo com a abertura da frente missionária no Acre. Precisamos continuar. Precisamos ainda “avançar para águas mais profundas”.
E ‘águas profundas’ são outros campos de apostolado ligados ao carisma passionista e à Província, e que precisamos acompanhar com mais professionalidade.
Vou citar apensas alguns desses campos:
a. A Formação pessoal: estudo de línguas, Faculdades, Cursos, etc. “Procurando nos preparar para o trabalho missionário especifico da nossa Congregação, como: pregação de missões populares, pregação de Retiros, Orientação Espiritual, atendimento do sacramento da Reconciliação” (RP 87).
b. Santuários. A Província tem dois santuários. É um campo de apostolado que precisa de uma preparação específica. “Devem ser centros de irradiação do carisma passionista – queremos celebrar de modo particular o sacramento da Misericórdia, praticar o ministério da acolhida e da escuta, acolhendo o povo que na peregrinação, reconhece-se como ‘Povo de Deus a caminho’” (RP 90).
c. Colégios. Hoje temos dois Colégios. A formação dos jovens faz parte da nossa história. Aí também precisamos de preparação. “Procuramos educar os jovens para um projeto humano em que habite Jesus Cristo com o poder transformador de sua vida nova; promover uma educação centrada na pessoa humana; estimular uma educação de qualidade para todos, especialmente para os mais pobres” (RP 91).
d. Os Projetos Sociais também fazem parte da nossa história. E nós “queremos viver e testemunhar a nossa paixão pela vida, promovendo a dignidade de todo ser humano” (RP 92).
Diante da necessidade da Igreja e da realidade da Província somos convidados a alargar o nosso olhar e o coração. Precisamos nos colocar em atitude orante, de confronto e de discernimento.
Para refletirmos...
Essa oração de Mahatma Gandhi, profeta da não violência, pode ajudar.
“Senhor, ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes
e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos.
Se me dás fortuna, não me tires a razão.
Se me dás sucesso, não me tires a humildade.
Se me dás humildade, não me tires a dignidade.
Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda.
Não me deixes acusar o outro por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim.
Ensina-me a amar os outros como a mim mesmo.
Não deixes que me torne orgulhoso, se triunfo; nem cair em desespero se fracasso.
Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede o triunfo.
Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança é um sinal de baixeza.
Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso.
Se eu ofender as pessoas, dá-me coragem para desculpar-me.
E se as pessoas me ofenderem, dá-me grandeza para perdoar-lhes.
Senhor, se eu me esquecer de Ti, nunca Te esqueças de mim”.
E ainda:
Mantenha seus pensamentos positivos,
porque seus pensamentos tornam-se suas palavras.
Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes.
Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos.
Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores.
Mantenha seus valores positivos, porque seus valores... Tornam-se seu destino.
A todos meu abraço fraterno.
Pe. Giovanni Cipriani
Superior provincial