Os 5 Pilares da Congregação Passionista
14/04/2021

Escrito por: Pe. Bruno Maciel,CP.

“Em primeiro lugar, recomendo-vos insistemente o cumprimento daquele santíssimo mandamento dado por Jesus aos seus discípulos: nisto conhecerão todos que sois meus discípulos – se vos amardes uns aos outros (...). Além disso, peço a todos, mas especialmente àqueles que exercerem o cargo de superiores, que façam florescer sempre mais na Congregação o espírito de oração, de solidão e de pobreza. Ficai seguros de que, enquanto se mantiverem firmes estas três coisas, a Congregação resplandecerá diante de Deus e diante dos homens” (Testamento de São Paulo da Cruz, 18/10/1775).

1. ORAÇÃO

A oração é considerada como um meio de união com Deus e com os outros. Esta união supõe amor. Por isso, a melhor oração é amar. Quem se une a Deus se volta para os irmãos e para o mundo, pois, Deus quer salvar o mundo e a todos. As etapas dos antigos era: a- Via purgativa ou de limpeza ou purificação. b- Via iluminativa, quando o orante vai recebendo a luz da Palavra e da vontade de Deus. c- Por fim, chega-se à via unitiva, que simbolicamente podia consistir num casamento da pessoa com Deus. Assim, seriamos como que “esposas” de Deus, tudo fazendo para recebê-lo e desejando ardentemente estar com Ele.

O Passionista deve ser um especialista na oração e, no seu trabalho missionário, deveria ensinar a rezar e sobretudo, meditar ou contemplar o amor imenso de Deus manifestado no Crucificado, que ressuscitou. Rezar é o modo de relacionar-se com tudo, conforme os desejos de Deus. Esta união pode chegar até a uma identificação com o Cristo que habita em nós. São Paulo Apóstolo nos diz: “Já não sou eu que vivo, mas, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Carta de São Paulo da Cruz à Irmã Colomba Geltrude Gandolfi, sem data.
“Tenha em grande conta e seja constante em estar solitária interiormente, deixando desaparecer (assim direi) esta gota do seu espírito no mar imenso da divindade; mas este vôo de fé e de amor se deve fazer em Cristo Jesus, sempre unida em espírito, sem imagens, à sua Santíssima Paixão. Deus a ensinará tudo, e estando sempre no seio de Deus, desta forma, renascerá sempre à nova vida de amor no divino Verbo Cristo Jesus. Reze os salmos no coro (capela), em verdadeira solidão interior, recitando-os no Espírito Santo. São João Evangelista naquela grande visão que teve do paraíso, viu que naquela soberana cidade não existia Templo e acrescenta que Deus é o templo daquela grande cidade de paz. Oh, quanto é suave realizar a oração, tanto vocal como mental, neste divino templo que é Deus mesmo! Reze também em silêncio de fé e de caridade, neste templo que é Deus; perca-se aí, abisme-se, obedeça aos atrativos do Espírito Santo. Seja muito simples e jamais curiosa de entender as divinas realizações que Deus faz durante este tempo na sua alma dileta. Quem pode compreender? Ame, sofra, cale.”

2. SOLIDÃO

Em São Paulo da Cruz, a imagem do deserto nos ajuda a compreender a solidão. Ele a chamava de “sagrado deserto interior”. É o lugar: de fortalecimento para a missão; do essencial (onde Deus fala ao coração e não os ídolos); em que Deus o transforma em nascentes de água; que Deus se aproxima dos homens e lhes socorrem na garantia de levá-los à terra onde jorram leite e mel; de recolhimento e intimidade com Deus; de descanso; de enfrentar as tentações. A solidão é um estado indispensável para se viver o serviço. No deserto afinamos o ouvido para a voz de Deus. O deserto é uma prática reflexiva e atuante na realidade sociocultural do mundo.

Carta de São Paulo da Cruz à Sra. Ana Maria Calcagnini, 14/06/1768.
“Deixa sempre mais desaparecer o seu nada no infinito Tudo, que é Deus, e, no sagrado silêncio de todas as faculdades, receba a operação das graças divinas, privando-se do seu próprio entender, do próprio gozar e do próprio sentir. Sobretudo não se apegue às próprias consolações, nem aos dons de Deus, mas, despojada de tudo o que não é Deus, deixe-se compenetrar da divina caridade, sem outro desejo senão estar atenta, com a parte superior do espírito, àquele infinito Bem, que realiza tais maravilhas de caridade no seu pobre espírito, em pura fé e santo amor. Você deve conservar estas ações de Deus em sagrado silêncio e, depois permanecer no conhecimento do seu nada: nada ter, nada saber, nada poder etc.”

3. MEMÓRIA DA PAIXÃO

Aqui está o miolo da espiritualidade passionista: Meditar e pregar a Paixão de Cristo. Ele deve subir ao Monte Calvário e contemplar a partir de lá o mundo inteiro. Temos um lugar próprio para ver o mundo. Mas, sempre deixamos as portas e as janelas abertas para ver tudo também a partir da Ressurreição. Não basta subir o Calvário. Na oração, tentamos descobrir o que se passou e o que se passa no “coração e na cabeça” de Jesus. Entramos, se isto é possível, dentro dele e deixamos que Ele entre dentro de nós. Queremos ter o amor e a compaixão que Ele demonstrou na sua entrega ao mundo na Cruz. E nos deixamos amar por Jesus. Às Vezes, deixar-se amar é mais difícil que amar, porque o deixar-se amar supõe deixar-se mudar e tornar-se semelhante ao amado. Queremos dizer como o Apóstolo Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

A Memoria Passionis tem dimensão contemplativa, isto é, trata-se de uma atitude em que olho e me deixo interpelar por quem olho. Como Passionistas, somos chamados a ser testemunhas da Páscoa na própria Paixão de Cristo e solidários/ profetas da Páscoa na paixão do mundo. O livro dos Passionistas é o Crucifixo, no qual suas páginas estão escritas com letras de dor e amor.

A Eucaristia, por lembrar também a Paixão, Morte e Ressurreição, merece um lugar especial. Constitui-se num excelente lugar para FAZER MEMÓRIA DA PAIXÃO.

Carta de São Paulo da Cruz à Marchesa Dal Pozzo, 04/10/1734
“Gostaria de lhe dizer muitas coisas, mas quem não ama não sabe falar de amor; esta é uma linguagem que só pode ser ensinada pelo amor. Escute o divino Amante, e permita que seja Ele a ensiná-la. Eu queria reduzir-me a cinzas por amor. Mas não sei falar! Gostaria de dizer aquilo que não sei dizer. Oh, meu Deus, ensinai-me Vós mesmo como o hei de dizer! Quereria arder de amor; mais, muito mais: gostaria de poder cantar no fogo do amor e exaltar as maravilhas que o incriado Amor concede à sua alma.
Mas diga-me, minha filha: não será por acaso um dever que este pobre pai seja grato para com Deus pelas enormes graças que Ele concede a esta sua filha? Assim é, de fato, mas eu não sei como fazê-lo; queria, mas não sei. Desfalecer pelo desejo de amar sempre este Deus imenso, é pouco. Reduzir-me a cinzas, é pouco. Que fazer? Ah, já sei: levaremos uma vida de contínuas agonias de amor para com o nosso divino Amante. Mas acha que falei bem? Não, pois eu queria dizer muito mais, mas não sei como fazê-lo. Sabe o que me dá um pouco de consolo? Comprazendo-me de que o nosso grande Deus seja esse Bem infinito que é, e que ninguém O pode louvar e amar tanto quanto Ele merece. Sinto-me feliz por Ele Se amar infinitamente a Si mesmo; sinto-me feliz pela felicidade essencial que Ele é em Si mesmo, sem precisar de ninguém.
Mas eu estou louco! Não seria melhor que, como uma borboleta, eu me lançasse todo nas suas chamas amorosas e ali, em silêncio de amor, ficasse reduzido a cinzas e desaparecesse, perdendo-me nesse divino Tudo? Mas isto é obra do amor, e eu, com a minha vida cada dia pior, sempre cada vez menos disposto a perder-me nesse amor. Entretanto, você está sentada à mesa, e o pobre pai aqui a morrer de fome. Bonito! A filha a banquetear-se, e o pai roendo um pedaço de pão duro, negro, e sem nada para beber! Pense bem, pois as minhas entranhas já estão tão secas que nem toda a água dos rios chegariam para me matar esta sede; se não beber nos oceanos, não apagarei a minha sede. Note, porém, que o meu desejo é beber no oceano de fogo do amor. Diga-o ao Esposo divino; não se separe d’Ele e não cesse de Lhe pedir dia e noite, até que não consiga o despacho favorável para ambos.
Eu quereria que nos abrasássemos em tão grande fogo de caridade, até ao ponto de incendiarmos quem passasse perto de nós; não só quem passasse perto de nós, mas também os povos distantes, as línguas, as nações, as tribos; numa palavra, todas as coisas criadas, para que todas conhecessem e amassem o Sumo Bem”.

4. POBREZA

A Pobreza é despojar-se de si mesmo, tal como Cristo em nada se apegou, e somente entregou-se a si mesmo pelos nossos pecados e nossa salvação. Privilegiamos os pobres, os sofredores e queremos ajudá-los alcançar justiça. Queremos estar ao lado dos pobres em suas lutas e adversidades, para aliviar, confortar e ajudar a cada um deles.

Carta circular de São Paulo da Cruz a toda Congregação Passionista, 30/11/1760
“Em frente, caríssimos, ‘renovai o vosso espírito e a vossa mente e revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo’ (Rm 13,14; Ef 4,23); e revestidos de Jesus Cristo, fazeis que resplandeça em vós a verdadeira humildade de coração, tanto interna como externamente; exercitai-vos na verdadeira obediência, na verdadeira caridade que une uns aos outros, na santa mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros’ (Ef 4, 2), compadecendo-vos com grande caridade e ajudando-vos mutuamente; cuidem dos vossos sentidos externos, principalmente da língua, sobretudo quando, por obediência, deveis sair de casa; tenhais grande estima do santo silêncio que é a chave de ouro que guarda o grande tesouro das santas virtudes... Se assim fizerdes, se verificará em vós aquelas sagradas palavras: ‘Deus se consola nos seus servos’ (2Mc 7,6), porque em vós Jesus Cristo encontrará suas delícias, a Congregação será venerada no mundo. De outra forma, sereis motivo para que a Congregação se transforme em ludíbrio de todos para nossa infinita ruína”.

5. PENITÊNCIA

Por mais que a gente se esforce, sempre haverá o que melhorar. Por isso, desejamos ir superando os males e os pecados, porque sempre amamos imperfeitamente a pessoas imperfeitas. É um busca contínua de mudança ou conversão para Cristo e para os outros. Gostaríamos que todos nos acompanhassem nesta tarefa. Mesmo porque converter-se sozinho é muito difícil ou quase impossível. Por isso, formamos comunidades, onde todos devem ou deveriam se preocupar em seguir melhor e sempre mais a Jesus.

A padroeira de nossa Congregação é Nossa Senhora das Dores, vista sobretudo sob a Cruz de Cristo no monte Calvário. Ela é a primeira passionista, pois, como os Passionistas, ela contemplou e contempla o mundo sobretudo do Monte Calvário, onde é vista aos pés de Jesus. O primeiro convento foi dedicado a Nossa Senhora da Apresentação, que lembra quando ela teria sido apresentada a Deus no templo de Jerusalém e consagrada a Deus. São José e São Miguel Arcanjo também merecem lugar de destaque em nossa espiritualidade. Em nossos quartos, sempre se encontrou também a imagem de Nossa Senhora da Esperança e, ultimamente, Nossa Senhora Passionista.

Carta de São Paulo da Cruz à Irmã Maria Innocenza di Maria Ssma. Addolorata, 05/11/?
“Se não apenas sete vezes você cai em defeitos, mas antes, dez ou cem, não perca por isto a paz e a confiança em Deus, mas humilhe-se docemente com uma dor amorosa e um amor doloroso. Uma palavra ou duas bastam: Deus a ensinará. Eis a via rápida para consumir as imperfeições: esteja retirada em Deus, em recolhimento interior, naquela divina solidão e sagrado silêncio de fé e de amor, rico de todo bem. E quando você se encontrar ferida por qualquer imperfeição ou dissipação do espírito, por que não foge logo ao seio do Sumo Bem, com um vôo amoroso de fé, abismando-se toda em Deus, com dor amorosa e pacífica, deixando consumir o imperfeito naquela imensa fornalha de caridade?”