RENEGAR A SI MESMO - “ABNEGET SEMETIPSUM”
18/06/2021

Comentário: Pe. Bruno Maciel, CP
Da obra: “Vox Patris – Máximas espirituais de São Paulo da Cruz, fundador da Congregação da Paixão”

Mortificação, Castidade, Pobreza e Humildade

INTRODUÇÃO

A todos os que docilmente desejam seguir Jesus, impõe-se como primeira e indispensável condição, o renegar a si mesmo (Mt 16,24). O ser humano se afastou de Deus e se perdeu amando desordenadamente a si mesmo; portanto, para se reaproximar de Deus e alcançar a salvação, se faz necessário renunciar-se a si mesmo.

Segundo São Francisco de Sales, dois “eus” habitam em nós: um, todo celeste, que nos levar a amar Deus e praticar boas obras; e outro, constituído pelas nossas paixões e perversas inclinações – em suma, pelo nosso amor próprio – este deve ser renegado. Para João Evangelista, esta tendência, origem de todo pecado, é renegada pela prática de algumas virtudes – mortificação, castidade, pobreza e humildade – que constituem “a purificação ativa do espírito”.

Para ajudar nossa reflexão, vejamos a seguir, algumas máximas de São Paulo da Cruz, fundador da Congregação Passionista, seguidas de um breve comentário:

MORTIFICAÇÃO (pp. 48 – 52)

Comentário:
Nosso Senhor, “estando na forma de Deus, se despojou, tomando a forma de escravo (...), abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (Fl 2,6-8). Na contramão da vanglória deste mundo, Jesus revela a Glória e a Majestade de Deus na cruz, no lugar onde os delinquentes eram assassinados publicamente. Sendo o Santo dos santos, preferiu se fazer o pior dentre todos, “carregando sobre Si nossos sofrimentos e dores” (Is 53,4), deixando-se trespassar e ser esmagado por causa das nossas iniquidades (Is 53,5). Nosso Senhor se mortificou para nos dar a vida em plenitude, e para recebê-la, é preciso também mortificar nosso ser de tudo o que a retém: as paixões, o individualismo e a insensibilidade.

CASTIDADE (pp. 52 – 56)

Comentário:
A castidade é um dos votos professos pelos(as) religiosos(as) comsagrados(as); entretanto, não é algo exclusivo a estes(as). Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “todo o batizado é chamado à castidade. O cristão “revestiu-se de Cristo”, modelo de toda a castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta, segundo o seu estado de vida particular. No momento do seu Batismo, o cristão comprometeu-se a orientar a sua afetividade na castidade (par. 23.48). Ser casto não é um mero “privar-se do ato sexual”; está muito além disso! Jesus Cristo, o casto por excelência, nos mostra que ser casto é amar a Deus, a nós mesmos e às pessoas ao nosso redor, de modo íntegro e responsável. A castidade orienta todo nosso ser (corpo e espírito) para o ato de doar-se por amor, assim como fez Nosso Senhor em toda sua vida, e de modo particular, na sua Paixão e Morte de cruz.

POBREZA (pp. 57 – 61)

Comentário:
Para selar a Nova e Eterna Aliança conosco, Deus Pai enviou seu Filho único, Jesus, pela ação do Espírito Santo. Para habitar entre nós, Jesus se fez humano, se fez “carne” (Jo 1,14) no ventre da Virgem Maria, e no devido tempo, nasceu na cidade de Belém, em meio à pobreza família de Nazaré. Jesus nasce pobre e vive pobre! Pobreza aqui é kenôsis: um despojar-se de si mesmo, considerando e confiando em Deus como a maior riqueza da vida – bem-aventurado seja quem vive assim! (Mt 5,3).

HUMILDADE (pp. 61-67)

Comentário:
No mundo sedento por fama e prestígio, a humildade é água cristalina que sacia nossa sede de Deus. É preciso aprender de Jesus, “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), que um bom servo é aquele que desempenha suas obras de fé, sem pedir contas e satisfações ao seu Senhor. É regra de ouro saber que o que fazemos, é de coração livre e gratuito, e não é mais do que nossa obrigação – “não saiba tua mão esquerda o que faz tua direita” (Mt 6,3). Nossa glória é viver em Deus, e isto, por si só, já é um grande mérito; portanto, não exige recompensas. A exemplo de Paulo Apóstolo, tenhamos a reta consciência donde está nossa única glória: na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para nós e nós para o mundo (Gl 6,14).