Queridos irmãos, irmãs e amigos da Família Passionista:
Ao celebrar a festa do Nascimento de Jesus, Príncipe da Paz, neste Natal estou especialmente consciente do crescente nível de violência do nosso mundo que ameaça nossa segurança, liberdade e senso de paz. A violência de todo tipo, a nível local e global, tem afetado profundamente nossa paz este último ano. Sim, em certo modo poderíamos estar satisfeitos em entender a paz como a ausência de guerra, lutas e conflitos. A verdadeira paz é “shalom”, palavra hebraica que transmite o sentido da paz como tranquilidade, bem-estar, prosperidade, harmonia e plenitude. Esta é a paz que Jesus viveu, buscou e desejou para si mesmo e para os outros.
A paz é o sonho e o desejo de muitos, mas também para muitos permanece sendo só um sonho que parece como irrealizável. Os meios de comunicação informam todos os dias sobre atos de violência em todo o mundo e em nossa sociedade mais próxima: notícias de guerras, ataques terroristas, tiroteios, crimes movidos pelo ódio, assaltos a mão armada, agressões sem motivos etc. Filmes e jogos de entretenimento violentos fazem lavagem cerebral em nós, especialmente nos jovens, nos levando a considerar a violência como uma forma normal de vida. Todos estamos conscientes do aumento em nossa sociedade da violência doméstica e dos abusos (físicos, psicológicos, verbais e sexuais) contra as crianças e adultos, motivo de especial preocupação. Além disso, se exerce tanta violência em todo o mundo contra “nossa casa comum”, que o Papa Francisco na Laudato Si’ nos pede que sejamos não-violentos em nossos pensamentos, palavras e ações. Sem falar da violência que todos cometemos diariamente com nossas palavras e linguagem, nossas atitudes e inclusive com nosso silêncio.
A história dos atos de Caim e Abel no Livro do Gênesis nos introduz no nascimento da violência cometida na e pela família humana. Mas isso não é o que Deus pretendia desde o princípio, nem o modo como devemos viver. Nossos corações foram criados com o desejo da paz, não da violência a que a nossa carne se sente tentada, muitas vezes inflamada por ciúmes, interesses pessoais, competição, ganância, desejo de controle e de poder... Algo muito familiar para todos nós.
À luz de tudo isso, me agradou muito ver que no recente Capítulo Provincial da Província MACOR, que compreende Coreia do Sul e China, um jovem religioso passionista coreano apresentou uma proposta sugerindo que a Província adotasse um programa de Comunicação não violenta e que os religiosos se formassem neste tema. É um programa que pode ajudar-nos a descobrir a profundidade de nossa própria compaixão, enfatizando a escuta profunda de nós mesmos e dos outros. O fato de que esta sugestão foi primeiro apresentada e depois adotada pela Provincia diz muito da evidente necessidade que sentida entre os religiosos de crescer em relações mais saudáveis e em uma vida comunitária mais harmoniosa. Imagine como diferente seria o nosso mundo se todas as comunidades, famílias, instituições e organizações reconhecessem a necessidade de praticar uma comunicação não violenta e viver mais pacificamente mediante o desenvolvimento de relações mais saudáveis baseadas na escuta profunda e respeitosa e em respostas com compaixão. Como sempre, parece uma tarefa difícil, mas pode e deve começar COMIGO. Preciso refletir sobre como é minha comunicação – de pensamento, palavra e ação – e ver como isso afeta a todos os demais seres e coisas criadas. Também preciso refletir sobre como respondo diante de qualquer forma de comunicação violenta por parte dos outros. A “carne”, por natureza, nos impulsiona a reagir com represália e vingança (“olho por olho e dente por dente”), enquanto o coração e o espírito nos estimulam a agir com empatia e compaixão: o princípio sobre o que se baseia a não-violência.
O Natal, que celebra o mistério da Encarnação (Deus que se faz homem na vida de Jesus de Nazaré), nos recorda que Deus (em Jesus), que nasceu em um mundo violento e experimentou a violência em todas as suas formas ao longo de sua vida, optou por não reagir nem tomar represálias com violência ou vingança. Ao contrário, preferiu comunicar-se sem violência e responder com amor e compaixão. Ao longo de sua vida, Jesus viveu a comunicação não violenta através da escuta de seu coração, movido pela compaixão (piedade). Isto fez nascer, desde o mais profundo do seu ser, uma paz que, por sua vez, oferecia como dom aos demais.
A paz te desejo, minha própria paz te dou,
uma paz que o mundo não pode dar (Jo 14, 27)
Nosso mundo e cada um de nós necessitamos urgentemente da verdadeira paz e menos violência. O Natal é uma oportunidade, um convite à renovação que nos move a optar conscientemente pela fuga de qualquer ato de violência e responder humildemente com o dom da paz de Cristo, movidos por corações cheios de compaixão.
Abramo-nos para acolher com alegria neste Natal o dom do Filho de Deus, Jesus Cristo, Príncipe da Paz.
Te desejo um Santo Natal e um Ano Novo de “Shalom”!
Pe. Joachim Rego, CP
Superior Geral