Adaptação: Fausto Silva Barros (Noviço Passionista)
São Paulo da Cruz (Francisco Danei nome civil) nasceu no dia 03 de janeiro de 1694, em Ovada, Itália, de uma família de comerciantes pobres. Filho mais velho de Lucas Danei e Ana Maria Marassari, eram 16 irmãos. Onze morreram na infância, dada a mortalidade infantil da época. S. Paulo da Cruz fundou a congregação para fazer missões e retiros nos lugares mais pobres, onde ninguém queria ir como padre.
A sua mãe ensinou-o a ver na Paixão de Jesus Cristo a força para superar todas as provas e dificuldades. Assim, enamorado de Jesus Crucificado desde criança, quis entregar-Lhe toda a sua vida. Aos 19 anos, ouvindo a pregação de um sacerdote, o Senhor iluminou-o relativamente ao amor de Cristo Crucificado: foi o momento a que ele próprio chamou de 'conversão'. Por volta de 1715-1716, desejoso de servir a Cristo, apresentou-se em Veneza e alistou-se no exército das cruzadas. Queria lutar contra os turcos, que então ameaçavam a Europa. Enquanto adorava o Santíssimo Sacramento, numa igreja, compreendeu que não era aquela a sua vocação.
Segundo um testemunho, uma aparição da Virgem Maria permitiu-lhe conhecer o hábito, o emblema e o estilo de vida do futuro Instituto, que teria sempre Jesus Cristo Crucificado como centro. O Bispo de Alexandria, Mons. Gattinara, ouvido o conselho de confessores prudentes, revestiu-o com o hábito da Paixão, a 22 de Novembro de 1720. Passou 40 dias na sacristia da igreja de S. Carlos, em Castellazzo. Durante os 40 dias de retiro, Paulo da Cruz escreveu seu diário. Nos dias 2 a 7 de dezembro escreveu também as regras da nova Congregação, destinadas a possíveis companheiros, aos quais chamava de 'Os Pobres de Jesus'. O seu irmão João Baptista, que o visitava, quis associar-se a ele, mas Paulo, naquela altura, não o permitiu. Mais tarde, ele vai rasgar e queimar estas regras, reescrevendo-as conforme as novas experiências e as sugestões que vai recebendo de pessoas amigas e de seus primeiros companheiros.
O fundador foi um homem de mudanças e soube perceber os problemas de seu tempo, agindo de acordo com a realidade. O essencial de sua espiritualidade é FAZER MEMÓRIA DA PAIXÃO MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS. Isso já se encontra no seu diário do retiro e na carta que escreve ao bispo Gattinara, pedindo licença para iniciar a experiência dos 40 dias, logo no início de sua vida de passionista. Concluída a experiência, o Bispo autorizou-o a viver na ermida de Santo Estevão, em Castellazzo, e a realizar apostolado como leigo. No Verão de 1721, viajou até Roma, no intuito de obter uma audiência Papal para explicar as luzes recebidas sobre uma futura Congregação. Os oficiais do Quirinal, onde residia o Papa, não o deixaram entrar, pois pareceu-lhes tratar-se de mais um aventureiro.
Aceitou a humilhação que o configurava a Jesus Crucificado e, na basílica de Santa Maria Maior, perante a Virgem 'Salus Populi Romani', fez voto de se consagrar a promover a memória da Paixão de Jesus Cristo. De regresso à sua terra, deteve-se um pouco em Orbetello, na ermida da Anunciação do Monte Argentário. Ao chegar a Castellazzo, encontrou-se com o seu irmão João Batista e, juntos, resolveram levar uma vida eremítica no Monte Argentário. Depois, a convite de Mons. Pignatelli, deslocaram-se para a ermida de Nossa Senhora, em Gaeta.
Os esforços de fundar uma comunidade fracassavam sempre. Para serem pregadores da Paixão era necessário tornarem-se sacerdotes. Por isso, resolveram viajar para Roma. Enquanto estudavam a Teologia, foram prestando o seu serviço no hospital, atendendo os doentes infectados pela peste. O Papa saudou-os em El Celio, junto à igreja chamada ‘La Navicella’, e deu-lhes uma autorização oral de poderem fundar no Monte Argentário. Uma vez ordenados sacerdotes, em 1727, os dois irmãos abandonaram Roma e dirigiram-se para o Monte Argentário.
Iniciaram o seu apostolado entre pescadores, lenhadores, pastores, etc. Rapidamente foram-se juntando companheiros, entre eles o seu irmão António e sacerdotes bem preparados. Os Bispos dirigiam-lhes pedidos para missionarem as terras daquela zona. Quando ali se declarou a guerra dos Presídios, Paulo exercia o seu ministério em ambas as facções, sendo bem recebido dos dois lados. O primeiro convento, dedicado à Apresentação, foi inaugurado em 1737. Paulo apresentou as Regras para o novo Instituto, em Roma. Depois de algumas alterações, viriam a ser aprovadas pelo Papa Bento XIV em 1741. O amor a Jesus Crucificado impelia-o para o serviço apostólico das missões.
Para Paulo da Cruz, a Paixão de Cristo é a maior prova do amor de Deus. Deus nos ama loucamente. Ele achava que se as pessoas se dessem conta de que eram amadas loucamente por Deus, elas mudariam de vida. Por isso acreditava que a Paixão de Cristo é um remédio para todos os males. Quis assim mudar o mundo pelo amor e não pelo temor. Podemos organizar o mundo pelo medo ou pelo amor. Com o apóstolo Paulo (cf 2Cor 5,14), Paulo da Cruz quer a revolução feita no amor e por amor. As pessoas deveriam se converter porque se sentem amadas por Deus, não por causa do medo. A experiência de Paulo foi buscar sempre a vontade de Deus. Nunca viu as coisas muito claras, tendo que prosseguir no escuro, na fé. Soube ir mudando sempre, de acordo com as circunstâncias e com as sugestões de pessoas sábias. Não se apegou às suas idéias, mas soube ouvir e mudar.
Embora tenha sido sempre Superior Geral, desde 1747, não deixou de pregar nem de escrever cartas como diretor espiritual.Defendeu sempre, com grande determinação, para toda a Congregação, o espírito de solidão, pobreza e oração, não só com os seus conselhos, mas indicando também o exemplo do seu irmão João Baptista. Quando este morreu em 1765, Paulo sentiu-se como um órfão.
Após a supressão da Companhia de Jesus, Clemente XIV levou os Padres da Missão à igreja de S. André do Quirinal e concedeu a Paulo da Cruz a casa e a basílica dos Santos João e Paulo que eles tinham em El Celio. Nela, a dois passos do Coliseu de Roma, viveu o Fundador os últimos anos da sua vida; ali recebeu as visitas do Papa Clemente XIV, em 1774, e de Pio VI em 1775, e ali faleceu, uns meses mais tarde, a 18 de Outubro de 1775. Paulo da Cruz foi beatificado a 1 de Maio de 1853, foi canonizado a 29 de Junho de 1867 e as suas relíquias conservam-se em capela própria, inaugurada na basílica dos Santos João e Paulo em 1880.